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Como a saúde do intestino interfere na mente

Acredite se quiser: cerca de 10 trilhões (sim, trilhões!) de bactérias vivem dentro do seu intestino. Para se ter uma dimensão da importância desses microrganismos, nosso corpo inteiro possui “apenas” 10 trilhões de células. A famosa flora intestinal ou microbiota agora é protagonista de estudos que mostram o papel dela muito além da simples digestão. “É crescente o número de pesquisas sobre como essas bactérias influenciam a saúde e até o nosso estado emocional”, afirma a psiquiatra Ana Paula Carvalho, médica especialista em Medicina do Estilo de Vida pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, baseada em São Paulo.

Com uma rede de neurotransmissores semelhantes aos do cérebro, e responsável por regular o funcionamento do metabolismo, o intestino é considerado um segundo centro de controle do corpo. Cérebro e intestino, aliás, “conversam” de forma direta por meio do nervo vago, localizado na base do crânio, que cuida também da nossa frequência cardíaca. A questão que paira no ar é justamente quão profunda é a ligação entre os dois órgãos. “Estudos já mostraram que um desequilíbrio no intestino pode impactar o humor”, afirma Philip Burnet, professor associado do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford, no Reino Unido. “Isso revela a importância que essas bactérias têm sobre as nossas emoções”, avalia.

Em 2015, Philip conduziu um estudo analisando a ingestão de suplementos prebióticos (fibras que ajudam a manter as bactérias do intestino vivas) por voluntários durante três semanas. O resultado mostrou que indivíduos tiveram redução nos níveis de cortisol, conhecido como “hormônio do estresse”, que tem relação direta com o surgimento de depressão. Ele é um dos experts que pede à comunidade científica que considere a existência de “psicobióticos” – termo criado para designar substâncias que alteram a microbiota e influenciam no tratamento de doenças mentais. Relativamente simples, os protocolos incluem a ingestão de probióticos.

Para Christopher A. Lowry, professor do Departamento de Psicologia Integrada e Centro de Neurociências da Universidade do Colorado, nos EUA, manter micro-organismos saudáveis pode auxiliar no tratamento e na prevenção dessas patologias.
A medicina já reconhece que, embora não sejam determinantes, os hábitos alimentares são coadjuvantes no desenvolvimento de doenças. “Em muitos casos, a comida pode causar um mal ou impedir que o paciente melhore”, avalia Ana Paula Carvalho. “Os estudos sobre a microbiota do intestino jogam mais luz nessa questão e devem ajudar justamente quem adoece por manter uma dieta desequilibrada”, acredita.

Comendo a coisa certa
Obesidade, diabetes, dermatite atópica e até câncer já foram ligados ao desequilíbrio dessas bactérias. Nos últimos anos, porém, com o aumento da incidência e catalogação de transtornos mentais (e a ascensão de alimentos saudáveis como kombucha e kefir), especialistas se dedicam a estudar como essas mesmas bactérias têm impacto também sobre a saúde mental. Em 2011, por exemplo, uma pesquisa feita na Universidade de Cork, Irlanda, mostrou que ratos que ingeriam iogurte enriquecido com bactérias tinham mais disposição e apresentavam concentração maior de ácido gama-aminobutírico (GABA), um neurotransmissor conhecido por conter a ansiedade.

Entenda a diferença
Probióticos são micro-organismos vivos, como lactobacilos e bifidobactérias, que favorecem o trânsito intestinal, cooperam para o aproveitamento de vitaminas e defendem o intestino de bactérias indesejáveis. Prebióticos podem ser definidos como componentes alimentares que estimulam a proliferação de bactérias saudáveis no nosso intestino.

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